Chico Simões, Brasília, 10/12/2015

Conheci Carlos Babau em 1981 quando ele se apresentava no “Projeto Plateia” pelas escolas públicas de Brasília, mas só fui ver sua brincadeira com o “Carroça de Mamulengos” no Espírito Santo durante um festival de Teatro de Bonecos da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos – ABTB.

Por mais que já tivesse ouvido falar da excelência do brinquedo de Carlos Babau não vazia idéia do que ia assistir simplesmente porque até então não havia assistido nada nem parecido com o que vi naquele inesquecível dia quando boneco, bonequeiro e público se fundiram em uma brincadeira surpreendente onde a regra geral é o divertimento conduzido pelos “babaus” bonecos vivos e ativos, sagazes, brincalhões, maliciosos e subversivos que desafiam até a lei da gravidade.

O riso geral e a participação espontânea do público adulto e infantil, sem distinção, do início ao fim da brincadeira me impressionaram de tal forma que ali mesmo, naquele instante, decidi que o que eu queria fazer era alguma coisa semelhante. Ao final da brincadeira subi ao palco e me ofereci para ajudar Carlos Babau, que viajava e apresentava sozinho, a guardar e carregar as malas, na verdade um imenso caixão de madeira maciça e a tolda feita de pesados caibros.

– O peso não pesa ao dono, dizia Carlos Babau… E seguiram-se cinco anos entre idas e vindas ao Nordeste Brasileiro, sempre morando perto de mestres do brinquedo de bonecos e outras tradições,

travando uma batalha imensa tanto para sobreviver quanto para melhorar as condições de vida dos mestres e familiares. Nesse período aprendi muito mais que brincar com bonecos, apreendi o essencial para seguir firme e que numa tradição não basta escolher, é preciso ser escolhido pelo caminho a seguir.

No Carroça de Mamulengos os bonecos formam uma bem equilibrada galeria de tipos sociais, animais e seres fantásticos brincados com maestria e graça por Carlos Babau que sabe como encantar do mais popular ao mais erudito espectador provando que a tradição quando dignificada e enriquecida com a atualidade permanece viva e dinâmica para além dos folclorismos e purismos conservadores.

Carlos Babau é brincante sem fronteiras ou preconceitos, ainda jovem, no final dos anos setenta, deixou a capital do Brasil, onde participava de um importante grupo teatral chamado “Carroça” para conviver no interior da Paraíba, em Mari, com seu Mestre Antônio Babau, mergulhando fundo nas estruturas seculares e nos mistérios do brinquedo.

Dessa vivencia, ainda por ser narrada por Carlos Babau, com Mestre Antônio, nasceu o Carroça de Mamulengos, seguindo a tradição dos Babaus e ao mesmo tempo ampliando para todo território brasileiro o alcance da brincadeira encantando plateias de norte a sul, formando novos brincantes e contribuindo definitivamente para a manutenção do teatro popular de bonecos, como brinquedo vivo, em constante transformação mas que conserva a estrutura popular e universal que caracteriza a tradição.

Chico Simões, Brasília, 10/12/2015

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