A Chegada do Mamulengo no Reino do Cavalo Marinho
Pesquisa do grupo Mamulengo Presepada dá vida a espetáculo inovador, unindo os dois folguedos mais teatrais da Zona da Mata pernambucana

 

Os folguedos populares do Nordeste brasileiro são expressões culturais carregadas de simbolismo e encantamento. Uma amálgama de cores, música, devoção, mistérios e poesia. Buscando aprofundar nessa fonte, o grupo taguatinguense Mamulengo Presepada realizou um apurado projeto de pesquisa sobre as relações de identidade entre os dois brinquedos mais teatrais da Zona da Mata de Pernambuco: o Mamulengo e o Cavalo Marinho. Ambas são expressões culturais registradas como patrimônio cultural imaterial brasileiro, pelo Iphan.

Somada à bagagem dos 35 anos do Mamulengo Presepada, a pesquisa centrou-se em uma viagem rumo a Pernambuco para vivenciar os festejos do Cavalo Marinho, durante o ciclo natalino. Foram dois dias de festa na Casa da Rabeca, em Olinda, e duas semanas de celebração e vivência nos terreiros da Zona da Mata, onde diferentes grupos brincam Cavalo Marinho no período de festejos dos Santos Reis.

De volta a Brasília, o grupo acolheu para uma residência artística de intercâmbio o Mestre Aguinaldo Silva, do grupo Cavalo Marinho Estrela de Ouro, de Condado (PE). Ensaios no Ponto de Cultura Invenção Brasileira, em Taguatinga, uniram Mamulengo Presepada, Mestre Aguinaldo e brincantes convidados em mais dois meses de trocas e aprendizados sobre a dança, a música, o bordado e a encenação do Cavalo Marinho.

A interação e similaridades entre esses dois fantásticos folguedos e seus brincantes culminou na criação do espetáculo “A Chegada do Mamulengo no Reino do Cavalo Marinho”. A estreia está marcada para os dias 4, 5, 6 e 7 de maio, no Ponto de Cultura Invenção Brasileira. Depois, segue para o Espaço Imaginário Cultural, em Samambaia, nos dias 20 e 21. A entrada é franca e livre.

 

Desdobramentos e convidados

Além do espetáculo “A Chegada do Mamulengo no Reino do Cavalo Marinho”, a pesquisa realizada pelo Mamulengo Presepada culminou em uma exposição fotográfica com algumas das mais de 70 figuras do Cavalo-Marinho e uma crônica sobre a pesquisa. As apresentações contam com um “banco” de seis músicos e musicistas, dois atores/atrizes/dançarinos(as) e dois mamulengueiros, que brincam por trás de uma tolda bordada na estética tradicional da Zona da Mata, pelas mãos de Mestre Aguinaldo.

Com direção geral de Chico Simões e direção musical de Daniel Carvalho, o espetáculo conta com o reforço de mais dois mamulengueiros: Thiago de Francisco e Aguinaldo Algodão. Na composição do “banco” musical de Cavalo-Marinho está Kika Brandão (Mestre Zé do Pife e as Juvelinas), Marcelo Manzatti, Flávia Felipe, Gilson Alencar e Nega Layza (As Batuqueiras). Como atores brincantes, os convidados são Marília de Abreu, interpretando Quitéria, e Joaley Almeida, como Mestre Ambrósio e Mateus. Convidado especial na estreia: Mestre Aguinaldo Silva.

 

A pesquisa – folguedos irmãos

Tanto o Cavalo-Marinho quanto o Mamulengo têm origens na Zona da Mata Pernambucana. São manifestações teatrais dinâmicas, com estruturas fixas abertas, forte influência afro-indígena e muitas semelhanças com a Commedia Dell’Arte. A trama de ambos baseia-se em figuras/personagens que representam arquétipos característicos da sociedade e do imaginário brasileiro, acompanhada de músicos(as) que tocam e cantam costurando o enredo. No Mamulengo são bonecos; no Cavalo Marinho, mascarados. Há uma ordem de entrada de cada figura, porém, com total abertura ao improviso e ao surgimento de novos(as) personagens, a partir da interação com o público.

“Alguns personagens do Mamulengo parecem ter saído diretamente do Cavalo Marinho para a tolda, como Mané Gostoso, Capitão João Redondo, Caroca, Catirina, Palhaço da Vitória, Jaraguá, a Morte e o Boi. Os músicos, sobretudo o “banco” do mamulengo de Mestre Zé de Vina, tocam “Baiano”, a mesma música e os mesmos instrumentos do Cavalo-Marinho. Ou seja, não estamos pisando um chão totalmente desconhecido, mas, mesmo assim, pisamos devagarinho e pedindo licença”, comenta Chico Simões, mestre do Mamulengo Presepada e diretor geral da pesquisa.

 

Tradição Inovada

Acompanhando o fluxo migratório e a globalização que diminui distâncias, o Cavalo Marinho, assim como o Mamulengo, é também praticado fora da Zona da Mata pernambucana e do ciclo natalino. Hoje, novos grupos de outras regiões se inspiram na tradição e reinventam a brincadeira adaptando-se às novas realidades. Alguns exemplos são os grupos Mundo Rodá, Manjara e o Boi da Garoa, de São Paulo; e o Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, de Brasília.

“Essa transformação territorial deixa interrogações sobre o que é e o que não é tradição. Mas, para nós brincantes, as respostas serão dadas com o tempo. Conceituar é para acadêmicos. O que nos interessa mesmo é a troca, a vivência, o brincar, aprender e ensinar”, enfatiza Chico Simões.

“Cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore, mas uma linguagem em permanente rebelião histórica. Somente os intelectuais desligados da razão burguesa em consonância com os signos mais profundos dessa cultura popular é que configurarão um signo verdadeiramente revolucionário”.
(Glauber Rocha)

 

Os brinquedos

O Cavalo Marinho é uma brincadeira popular com origem na Zona da Mata de Pernambuco e no sul da Paraíba, criada por trabalhadores de engenhos de cana-de-açúcar. Tradicionalmente, celebra os Santos Reis e é realizada no ciclo natalino. Um teatro popular religioso e sincrético, que envolve ritual, figuras (personagens), música, dança, toadas e improviso. Reúne cerca de 76 personagens mascarados, entre animais, humanos e seres fantásticos, conduzidos por um banco com músicos(as) que executam canções e toadas que dão enredo à brincadeira.

O Mamulengo, ou Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, possui uma estrutura aparentemente simples, que revela soluções cênicas originais e engenhosas. A brincadeira é centrada na capacidade de improvisação e no espírito cômico do mamulengueiro, ator brincante que dá vida a dezenas de bonecos/personagens, por trás de uma tolda de pano. Também pode ser acompanhado de músicos e musicistas brincantes que conduzem o enredo com canções populares. O Mamulengo (PE e DF) é também chamado de Cassimiro Coco (PI, CE e MA), João Redondo (RN), Babau (PB) e Mané Gostoso (BA).

 

PROGRAMAÇÃO

Ponto de Cultura Invenção Brasileira
Mercado Sul, Loja 5, Taguatinga
04, 05 e 06 de maio – 20h
07 de maio (domingo) – 17h

Imaginário Cultural
QS 103, Conjunto 5 – Samambaia Sul
20 de maio (sábado) – 20h
21 de maio (domingo) – 17h

 

INFORMAÇÕES

Telefone: 61 9.9325.8037
E-mail: invencaobrasileira@gmail.com

Entrada gratuita
Classificação indicativa Livre

 

FICHA TÉCNICA

Diretor geral: Chico Simões
Atores bonequeiros: Chico Simões, Thiago de Francisco e Aguinaldo Algodão
Atores/atrizes brincantes: Marília de Abreu (Quitéria), e Joaley Almeida (Mestre Ambrósio
e Mateus)
Direção Musical: Daniel Carvalho
Banco de músicos e musicistas brincantes: Kika Brandão, Marcelo Manzatti, Flávia Felipe, Gilson Alencar e Nega Layza
Convidado especial: Mestre Aguinaldo Roberto (Cavalo Marinho Estrela de Ouro – Condado/PE)

Apresentação: FAC-DF (Secretaria de Cultura do Distrito Federal)
Realizaçao: Chico Mamulengo Simões
Produção: Famaliá
Comunicação: Pareia – Comunicação e Cultura
Design: Estúdio Gunga
Apoio: Invenção Brasileira

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