Festival internacional de teatro popular apresenta, a partir desta segunda-feira (13/3), espetáculos de grupos brasileiros, indianos, peruanos, argentinos, italianos e africanos
Maria Clara Britto*
postado em 13/03/2023 00:01 / atualizado em 13/03/2023 10:31
(crédito: Bonecos de Todo Mundo/Divulgação)
O teatro de bonecos ocupa Taguatinga a partir desta segunda-feira (13/3). É uma brincadeira ancestral que se tornou arte. “O teatro de bonecos resgata uma cultura milenar, que desperta no espectador uma relação viva, de entrega no momento presente em uma sociedade cada vez mais automatizada”, comenta Beatriz Brooks, do Grupo Locômbia, de Roraima. Os que acreditam que é apenas para as crianças, estão enganados. O 5° Festival Internacional de Teatro Popular de Bonecos chega para encantar plateias de todas as idades com a magia associada à simplicidade dos movimentos e à sonoridade. O evento terá a presença de atrações de quatro continentes, da Índia, Argentina, Peru, Burquina Faso e Itália, e das cinco regiões do Brasil, do Distrito Federal, Ceará, São Paulo, Roraima, Rio Grande do Sul e Goiás.
Ao Correio, o coordenador artístico do vento Chico Simões afirma que o festival é uma celebração do fim da pandemia. “No festival vamos celebrar a diversidade cultural universal. O teatro de bonecos que, apesar das suas diferenças de lugar para lugar, de país para país, de grupo para grupo, tem suas semelhanças também. São nessas semelhanças e diferenças, que se aprende muito”, explica. “Esse retrato da nossa cultura é um elemento fundamental na nossa identidade cultural e deveria estar mais presente na nossa educação patrimonial. Para que a gente, desde criança, aprenda a dar valor ao que é nosso”, completa.
Segundo Chico Simões, o teatro popular de bonecos tem uma importância universal. “Ele reflete a cultura de um povo em vários aspectos dessa cultura”, diz. No Oriente, onde nasceu esse teatro, é reconhecido como uma tradição, principalmente na China, na Índia, em Java e na Indonésia. Nesses locais, esta arte conquistou um status espiritual. “Diferentes países do mundo sempre desenvolveram seus próprios bonecos que, de alguma forma, representavam a própria cultura. Assim, por exemplo, temos bonecos como Pulcinella e os Pupis na Itália, Mr. Punch na Inglaterra, Mubarak na Arábia, Don Cristóbal na Espanha, os Mamulengos no Brasil ou Bunraku no Japão, apresentados com diferentes técnicas e em diferentes contextos”, comenta Hugo Suates, do grupo peruano Miniaturas.
A cultura indiana estará presente no festival com o grupo Aakaar Puppet Theatre, da Índia, e com o Grupo Locômbia, de Roraima. O grupo indiano mantém viva a tradição da casta Nut Bhat, que apresenta o espetáculo Amar Singh Rathore desde 1644. “Nós somos tradicionais marionetistas em corda desde o período de Shah Jahan. Amar Singh foi nosso rei”, diz Puran Bhat, do grupo Aakaar Puppet Theatre. A linguagem da peça é em Rajastani, língua indo-ariana, falada por cerca de 50 milhões de pessoas no Rajastão, mas o público poderá entender por meio da visualização. A peça é baseada em canções.
O grupo Locômbia irá apresentar o espetáculo O grande javali. “É uma peça de cunho ecológico, inspirada na mitologia hindu. Combinamos teatro não verbal com técnicas de dança indiana Chow-Dance, mímica, máscaras, bonecos, objetos e música”, explica Beatriz Brooks. A narrativa é sobre um encantador de serpentes que rouba o planeta Terra e o submerge no fundo do oceano. Para resgatá-lo, a Mãe Terra busca ajuda do Grande Javali, que vai na sua procura para criar novamente a harmonia no Universo.
Outra atração internacional é do Peru, o grupo Hugo e Inés, com o teatro miniaturas. O espetáculo tem como fonte de inspiração o universo do corpo. “O corpo, diante da sofisticada tecnologia e dos efeitos especiais, pode se tornar um espaço de resistência cultural, armado apenas com fantasia e criatividade”, explica Hugo Suates, um dos fundadores do grupo. O show é uma antologia de várias produções. A maioria dos números é sem palavras e as histórias são cômico-poéticas. “Cada número é uma história independente. Os bonecos são feitos com diferentes partes do corpo, como joelhos, pés, barriga, mãos, etc”, adiciona.
A Carroça de Mamulengos, grupo do Ceará, traz o espetáculo O Babauzeiro. A dramaturgia criada por Carlos Gomide está sempre em desenvolvimento. “Nessa próxima apresentação em Brasília, eu vou levar mais duas cenas novas que fazem parte dessa dramaturgia da brincadeira”, conta Gomide. O dramaturgo se inspira na simplicidade. “Me lembrei de uma frase do Leonardo da Vinci que dizia que a simplicidade é a suprema sofisticação”, completa.
O grupo Mamulengo Riso Frouxo é formado apenas por mulheres e pessoas não binárias. “É um espetáculo que prioriza as bonecas mulheres, tenta retratar e trazer as loas e as passagens da brincadeira com um pouco menos de machismo, racismo, intolerância ao LGBT, com um pouco menos de preconceito”, argumenta Natália Siufi, fundadora do grupo. Siufi fala que respeita as tradições, mas tenta colocar o toque de uma nova geração também. “Além de ser uma brincadeira popular e que respeita a tradição e que traz todos as matrizes principais que são da tradição, como as passagens, as figuras que se repetem, a Marieta, o Benedito Simão de Lima, a Quitéria, o coronel policial. Procuramos construir um mamulengo feminista, um mamulengo mais igual, mais diverso”, complementa.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco